Depois do depois
E naquele dia todos saíram novamente às ruas e viram o sol. Não era como sempre viram, não mesmo, os olhos habituados com a luz da TV, monitores e telas de Smartfones ficaram momentaneamente cegos com tanta luz, depois perplexos com a vida sem emojis. Os sorrisos tocavam as almas e os abraços tinham calor, o afeto enfim longe das telas tinha sobrevivido. As pessoas se reconheciam sem as máscaras e não era mais preciso tentar expressar sentimentos pelos olhos. Faltava saber o que havia mudado no mundo.
Na TV já não contavam os mortos, as novelas tinham mudado seus formatos encurtando o número de seus capítulos. Falava-se que o congresso decidira que os governos deveriam investir mais na saúde preventiva. Nas casas, as famílias conheciam melhor seus membros. As pessoas haviam entendido que é dentro delas que se aprende a conviver com as diferenças. Pais agora conheciam verdadeiramente seus filhos e os filhos conheceram as histórias de seus pais. Brincadeiras de décadas passadas foram resgatadas, feridas antes abertas estavam curadas entre irmãos. Naquele dia ninguém comprou o desnecessário pensando apenas em consumir por consumir, nas listas de compras, podia se perceber um certo esforço para ter relacionado apenas o que havia acabado e se fazia urgente a reposição, entrou na moda o consumo consciente. Se fez urgente o desejo das famílias continuarem unidas, seus membros buscavam trabalhos e escolas mais próximos de casa. Empresas que fizeram tantas ações sociais durante a crise já não podiam voltar atrás e adotaram o social como bandeira permanente. Fábricas de veículos não podiam perder suas concessionárias e fizeram ações para venderem seus carros mais baratos e com melhor financiamento, garantindo emprego para todos. O mundo voltava a consumir, mas já não era o mesmo. Os céus limpos, a poluição diminuída, as estrelas eram novamente observadas e todos queriam que permanecesse assim.
Este foi o depois do depois, o dia logo após ter findado a pandemia.
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