O Encontro Marcado
O encontro marcado
Sua primeira paixão na vida era o
futebol, a segunda eram os jogos de futebol — tudo parecia girar em torno
disso. Conhecido como “o galinha” da turma, “o garanhão” em verdade, tinha o sexo como terceira paixão. Era um domingo, dia de clássico, a turma estava reunida e
Fernando estranhou que alguém pudesse levar a esposa ao estádio em um jogo como
aquele, mas Rosa estava lá, bonita como sempre. Vestia a camisa do time e uma
bermuda curtinha, coisa de doido — azar do amigo Miguel, que iria passar raiva,
na certa.
Jogo tenso, bolas desperdiçadas, gols perdidos; e a equipe deles tomou
um gol em um contra-ataque rápido do arquirrival. Imagine!? O zagueiro aceitou
uma bola nas costas e sem ter a velocidade necessária para acompanhar o
adversário, acabou dando de bandeja. Mas nada estava perdido, o time continuava
jogando bem. O jogo seguiu de forma tensa até que a sorte virou e um abraço
coletivo selou a explosão de alegria quando o time virou o placar. Houve um
momento em que a mão de Fernando tocou sem querer a perna de Rosa — ela sorriu
e ele piscou. Estabeleceu-se ali um vínculo, a magia da cumplicidade e do
desejo.
Na segunda feira, ele ligou para a casa do amigo à tarde, sabia que ele
não estava. Passou um bom tempo jogando conversa fora e marcaram de se
encontrar meia hora depois. Foram diretos ao motel do outro lado da cidade para
não darem bandeira. Ela estava queimada de sol, com marquinhas na virilha,
deixadas pelo minúsculo biquíni. Os pelos dourados de suas coxas e o cheiro de
sexo, o excitaram, o que o levou a caprichar no serviço. Com uma mulher
daquelas, não podia fazer feio. Na hora de se despedirem, ficou acertado que se
encontrariam novamente na próxima quarta-feira, dali a dois dias. Para não
gerar burburinho, deveriam se encontrar às duas da tarde no mesmo motel para
onde cada um iria como pudesse.
— Às 14 horas, então?
— Nem um minuto a mais, já estou contando as horas. Tchau, querida!
Dois dias passam rápido, mas não para ela, que esperou ansiosa; tão
ansiosa que procurou chegar um pouco mais cedo ao combinado, queria que ele
chegasse logo. Tinha decidido contar a seu marido que estava apaixonada e pôr
fim ao casamento. Precisava dizer ao amante que o amava e que logo eles
poderiam ficar juntos para sempre. Fernando estava muito atrasado. Será que ele
falou a esposa da separação? Teria ela, feito uma cena? Talvez até tenha passado
mal e ele, como um homem atencioso, a teria levado ao posto médico.
Não se lembrava de tê-lo ouvido dizer que a amava, mas sem dúvida ele a
amava. Havia misturado suas coxas as suas, segurara em suas mãos durante o ato
de amor, lambera sua boca e bebera sua alma pelo seu seio. Não, não havia
dúvida do seu amor — haveria de ser um imprevisto e nada mais. Ele está
chegando, era somente um pequeno atraso — Rosa tentava se convencer. Teria sido
um acidente? Se questionava. — Meu Deus! Por favor, não. — Orava. Logo agora
que tinha encontrado a razão de sua vida? Não podia ter um destino tão cruel. O
trânsito ruim, devia ser isso, o trânsito e nada mais. Haveria um jogo pelo
campeonato nacional naquela noite e isso devia estar prejudicando a sua
chegada.
Ela, mulher bonita e desejada, ali abandonada em um quarto de motel,
contando os segundos e sentindo crescer a angústia do abandono, da perda e da
solidão. Suas pernas fraquejavam e seu estômago queimava na dor alimentada por
raiva e incerteza.
Desespero, frustração, ódio, um mix de maus sentimentos provocava
redemoinhos em sua mente. Enquanto sozinha, experimentava sua dor, começou a
desfiar na memória todas as palavras que queria dizer a ele.
Desistiu de esperar ao cabo de algumas horas. Era certo que ele não mais
chegaria. Saiu do Motel e ligou para o psicólogo implorando para ser atendida.
Eram quase 19 horas, mas era um caso de urgência. Não saberia como voltar para
casa sem contar para alguém, abrir seu coração e lavar sua alma. No entanto, no
divã, conseguia apenas chorar, chorar e nada mais.
Na porta do bar, ponto de encontro de sempre, Miguel esperava o amigo
que não tardou a chegar.
— E aí cara, entra logo que já estamos atrasados. Como foi o dia?
Encontrou com a tal mulher que você falou?
— Que nada, se eu fosse não ia ter pique para assistir ao jogo, pra mim
já deu! — Disse Fernando, contando vantagem. — Se eu tiver com saco qualquer
dia desses eu ligo pra ela. Além do mais a Lú me disse pela manhã que hoje é
nosso aniversário de casamento e vai rolar uns tira-gostos. Quando acabar o
jogo a gente desce direto para lá, viu?
— Dessa vez não vai dar, vou levar uma pizza, a Rosa deve estar
esperando para jantar.
Fernando estava apenas sendo homem no mundo dele e Rosa era apenas uma
mulher em um mundo nada feminino. Neste instante, fico imaginando quantos
encontros em uma tarde como aquela deixaram de acontecer, quantas Rosas não
choraram naquela noite.
Comentários
Postar um comentário